13 abril 2006

Acabaram os estaduais. Acabemos com os estaduais?

Todo ano, mais ou menos na mesma época, a discussão volta a aparecer em debates e artigos da imprensa esportiva: qual a importância dos campeonatos estaduais dentro da atual realidade do futebol brasileiro? Já não é hora de deixarmos esses tradicionais torneios pra trás, em nome da modernidade?

Eu acredito que os estaduais têm sim seu lugar e sua importância. Acho que, sem eles, muitos times hoje considerados grandes em várias capitais do Brasil estariam fadados a verem suas torcidas diminuírem pelo jejum de títulos, para acabarem se tornando apenas médios. E, além disso, penso que as discussões sobre o calendário levam sempre em consideração apenas os clubes grandes e não a totalidade do mercado que é o futebol - que tem muito mais gente envolvida e tirando dele seu sustento.

Agora, peguemos a Copa do Brasil, torneio que ninguém contesta e que ontem chegou às oitavas-de-final - ou seja, quem começou agora a jogar nesta nova etapa está a poucos passos da Libertadores. O que tivemos até então foram jogos esvaziados, a não ser aqueles em que os times grandes levaram público a estádios de cidades distantes - o que é uma alegria para aquele público, mas dura um jogo só e acaba. E, mesmo para essa etapa, não se pode dizer que a expectativa seja das maiores. Fernando Calazans, colunista de um dos maiores jornais do país, publicou ontem sem nenhum pudor que só começará a prestar atenção a partir da próxima fase, sem se preocupar em soltar um comentariozinho que seja sobre os confrontos decisivos do dia. E aí?

Imagino os campeonatos estaduais curtos, como são hoje em dia, valendo não só o título como a classificação para os regionais (Rio-São Paulo, Sul-Minas, Centro-Oeste, Norte e Nordeste) que começariam em seguida. Estes, também curtos e com fórmula mata-mata, além de valerem o título classificariam para a Copa do Brasil que viria na sequência - remodelada e bem mais curta. E acabaria com o monstrengo que é a série C do Campeonato Brasileiro, um campeonato deficitário e sem solução; o time mais bem classificado de cada regional que não estivesse na série B automaticamente ganharia sua vaga (ou talvez participassem de um torneio curto para disputá-la).

Não teríamos mais as primeiras fases de Copa do Brasil com jogos desinteressantes e que rendem viagens caras, longas e desgastantes. Os estaduais ganhariam novo significado para times grandes e pequenos, por valer classificação direta para uma competição mais importante em seguida. As rivalidades locais continuariam com seu espaço. Teríamos mais jogos decisivos espalhados ao longo do ano, gerando interesse do público e da mídia. Os clubes de centros menos valorizados no cenário nacional continuariam tendo a chance de chegar a fases decisivas de uma competição nacional - na verdade, teríamos a garantia de uma Copa do Brasil com representantes de todas as regiões em sua fase final. E acabaríamos com o intervalo de meses sem jogos entre uma competição e outra que há hoje para uma grande quantidade de clubes menores Brasil afora, o que virtualmente inviabiliza um planejamento razoável para uma temporada.