19 abril 2006

Fugindo da realidade

"— Poderíamos ter vencido o jogo. Criamos mais oportunidades e o gol que sofremos foi numa fatalidade. Não merecíamos perder"

Essa é a avaliação de Diego, goleiro do Flamengo, sobre a derrota de seu time para o São Paulo no domingo. É coisa pra deixar a torcida rubro-negra preocupada; enquanto o time não tiver total noção de sua mediocridade, não vai entender que precisa dar algo mais o tempo inteiro para conseguir ser competitivo durante o campeonato.

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Mas essa não foi a única peça de ficção criada por Diego publicada no Globo de hoje:

"— A queda de Mineiro não foi provocada por minha mão ou braço. Ele deu um tapa na bola na hora que eu pulei e esperou o contato para cair. Os goleiros não podem mais pular para tentar a defesa, porque é inevitável o contato. Tudo é uma questão de critério e temos que aceitar."

Diego se jogou à toa nas pernas do Mineiro e fez sim pênalti - à tôa. O jogador do São Paulo ia em velocidade em direção à linha de fundo, perdendo o ângulo, e dificilmente faria o gol. Mas não dá nem pra culpar totalmente o goleiro pela besteira; a imensa maioria dos goleiros não sabe como se portar corretamente quando um atacante chega cara a cara com ele, com a bola dominada. Normalmente caem no chão assim que o adversário fizer menção de chutar, facilitando em muito sua vida. Ou pulam nos pés do adversário, como fez Diego.

Na veradade, Diego tem muitos defeitos - inclusive limitações físicas para a posição em que joga - mas é dos melhores do Brasil neste quesito. No segundo tempo do mesmo jogo, Alex Dias entrou pela área do Flamengo em situação parecida e o goleiro fez certinho: saiu fechando o ângulo, cercou o atacante e o deixou perder o ângulo. O chute acabou na trave.

Talvez Diego tenha aprendido isso com o mesmo preparador do melhor goleiro brasileiro, que seria meu titular na Copa do Mundo. Júlio César é craque nesse tipo de jogada e evita assim muitos gols que outros goleiros levam e que ninguém acha que são frangos.

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Vi mais tarde o replay de boa parte de Grêmio 2 x 0 Corinthians. E vi que o Grêmio teve exatamente o que mais faltou ao Flamengo contra o São Paulo: atitude de vencedor. Vindo da Série B e jogando contra o campeão brasileiro, com elenco tido por todos como muito mais limitado que o adversário, o Grêmio não teve medo e jogou pela vitória. Correu o tempo todo e criou muito mais do que o Corinthians, que ficou preso na marcação - e na enorme quantidade de faltas - da defesa gaúcha. Além disso, o Grêmio ainda fez mais uma coisa que o Flamengo não conseguiu: aproveitou a chance que teve de marcar em um momento-chave do jogo e acabou conseguindo seu 1x0 no último lance do primeiro tempo.

Está só começando, foi só a primeira rodada - mas todas elas têm o mesmo peso no campeonato. Ganha no final quem tiver sabido encarar cada uma, uma a uma, com a seriedade e o espírito corretos. O Grêmio começou bem.