24 maio 2006

A pátria de chuteiras: Os goleiros

Começando a falar, como prometido, de nossa seleção, vamos iniciar pelo princípio. E devo dizer que já começamos mal: está no gol uma das fraquezas do time que podem nos custar a Copa do Mundo.
Eu diria que Dida, nosso goleiro titular, é o pior dos três convocados por Parreira. Embaixo das traves é muito bom, graças à altura e ao ótimo reflexo. Porém, tem defeitos graves: não sai do gol de jeito nenhum e, quando sai, é um desastre; e, além disso, é um perigo sempre que tem que jogar com os pés. Já entregou alguns jogos de seleção, inclusive um trágico contra o Japão em uma Olimpíada em que decidiu lutar judô com Aldair no meio da área. Acho um perigo colocar alguém com o potencial de entrega que ele tem como titular em uma Copa do Mundo. Pode colocar tudo a perder.
Rogério Ceni é melhor que o Dida, apesar de ser um goleiro, no máximo, "bonzinho". E com muitas e longas fases de insegurança. Mas ele anda jogando bem mesmo, não foi só o lobby paulista, as cobranças de falta e a boa articulação nas entrevistas que lhe garantiram a vaga.
Mas o meu escolhido seria o Júlio César. O cara tem físico, reflexos, sabe sair do gol, tem boa saída de bola, sabe jogar com os pés. Já mostrou que pode ir bem na seleção quando teve sua chance na Copa América. E tem um diferencial: naquelas bolas em que o atacante entra cara a cara com a bola dominada, é o melhor de todos. Sabe sair, fechar o ângulo, esperar o adversário definir a jogada e aí sim ir na bola. Assim ele evita muitos gols que outros goleiros tomam sem que ninguém ache ruim.
Um que chegou a ser considerado para a Copa e muitos achavam que tinha chance até o final era o Gomes. Acho ele fraquinho, fraquinho. Muito inseguro, solta bola demais e nunca me convenceu nem no Cruzeiro nem na seleção pré-olímpica. Volta e meia vejo algum frango dele lá pela Holanda. Não sei bem por que gostam dele.
Acho que um injustiçado por Parreira de quem ninguém fala é o Hélton, o goleiro brasileiro que vi sair melhor do gol pelo alto até hoje. Ele se destacava por aqui quando jogava no Vasco, mas acabou sumindo para a imprensa brasileira ao ir para um time de pouca expressão em Portugal. Só que impressionou por lá e hoje já é titular do Porto, deixando o ídolo português Vítor Bahia (que, ok, é horroroso - mas tem moral por lá) no banco. Não estou vendo ele jogar, mas é alguém que eu observaria e muito provavelmente levaria para a Alemanha.

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Vejam vocês como tudo depende do ponto de vista.
Tostão, "Tudo quase perfeito", na Folha se S. Paulo: "Não há um grande problema médico com os jogadores. Carlos Alberto Parreira é elogiado por tudo que faz. Parece tudo perfeito, como um relógio suíço. Está bom demais para ser verdade. (...) Não estou preocupado com o favoritismo do Brasil. (...) O Brasil já tem um grande time antes da competição".
Por outro lado, Guilherme Fiúza , "Adeus hexa", no NoMínimo: "A seleção que vai à Copa está pessimamente escalada. Os laterais Cafu e Roberto Carlos não correm mais atrás de ninguém, e no meio-campo há um único jogador de marcação, o igualmente ancião Emerson. Os dois zagueiros devem estar em pânico. Dali para frente, só malabaristas. E não será sequer um time forte na armação de jogadas, porque o tal quadrado mágico – Ronaldinho, Kaká, Ronaldo e Adriano – é todo de atacantes corredores, com pouquíssimo expediente no departamento de planejamento e articulação do jogo. Um time visivelmente desequilibrado e vulnerável. Mas quem vai querer desafinar o oba-oba?"
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