08 junho 2006

A Pátria de chuteiras: Os atacantes

Boa parte do favoritismo de nossa Seleção e da confiança no quarteto vem da final da Copa das Confederações contra a Argentina. Pois bem: entraremos na Copa com um ataque diferente daquele jogo.

Ronaldo e Adriano são bons? Ninguém é maluco de dizer que não. Estão bem? Ninguém pode dizer com certeza que estão também. Porque em seus times, até o fim da temporada européia, não estavam. Ronaldo mal tem jogado, sempre com problemas físicos - é até um alívio que a preocupação agora sejam bolhas ou febre. E Adriano deve ter feito menos gols esse ano até que o Obina.

Entendo que seja difícil barrar qualquer um dos dois. São jogadores que nos acostumamos a ver decidindo jogos para o Brasil. Mas é o que eu disse: quando o time conseguiu nos empolgar - empolgação que dura até hoje de maneira desproporcional - o ataque não era esse.

Com Robinho em campo, a movimentação do ataque melhora e muito, e fica até mais fácil para o meio-campo jogar, tendo muito mais opção de jogada. Ronaldo e Adriano são grandes finalizadores, mas jogam na mesma posição.

Mas como eu disse, é difícil ter coragem pra deixar no banco um dos dois, e o currículo menor do Robinho acaba fazendo com que fique apenas como opção. Eu entendo o lado do treinador, mas tenho minhas dúvidas se vai ser assim até o final da Copa.

Além dos três, ainda há o Fred. Houve quem pedisse pelo Nilmar, que tem jogado muito mesmo, mas eu tendo a concordar com o Parreira. Não faz muita diferença. Nenhum dos dois teria chance mesmo.

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Então, esse é o diagnóstico.

A escalação de nosso time empolga simplesmente por reunir no mesmo time quatro jogadores que podem resolver o jogo a qualquer momento. Porém, como equipe, essa que vem sendo escalada a mim não empolga. Tivemos uma grande atuação, na tal final contra a Argentina (sempre lembrando, com outra dupla de ataque e outros laterais) - mas ao mesmo tempo levamos um senhor sacode dos mesmos argentinos quando jogamos em Buenos Aires, com quarteto e tudo. Essa confiança e mega-favoritismo todo, pra mim, até hoje foi pouco justificado em campo. Ao longo dos últimos anos, vimos uma sequência de vitórias magras e atuações sonolentas contra adversários em sua maioria de medíocres pra baixo.

No ataque, não jogamos coletivamente. O time não consegue criar jogadas em conjunto e depende demais de lances individuais ou dos laterais. As jogadas individuais, ok, não é difícil imaginar que funcionem ao menos uma ou duas vezes por jogo. Mas os laterais... Cafu aparece bem, mas erra muito; Roberto Carlos acerta mais, mas aparece menos.

E na defesa, me assusta a insanidade e a grossura do Lúcio e as saídas de gol horrorosas do Lúcio. A cobertura no lado esquerdo, onde Zé Roberto sai mais e Roberto Carlos corre menos, não parece estar 100%. E não gosto do Emerson mesmo, sou implicante. Fora que ele não é cabeça-de-área em seu time.

Se fosse eu o técnico, considerando os jogadores que temos à disposição, trocaria Dida por Júlio César, Cafu por Cicinho, Lúcio por Luisão, Roberto Carlos por Zé Roberto, Emerson por Gilberto Silva, Zé Roberto por Juninho, Adriano ou Ronaldo por Robinho. Ou seja, não concordo com mais de meio time. Embora toda a imprensa o trate como unanimidade - bem, devo ser a exceção que confirma a regra, aquele que só evita que a opinião dominante possa ser definida por Nélson Rodrigues como burra.

Mas vá lá, concordo que somos favoritos, os maiores favoritos. Somos melhores do que os outros, temos melhores jogadores - e não só "melhores", mas "decisivos", o que faz muita diferença especialmente nas condições em que os jogos da Copa são disputados. Só não acho que a distância entre a gente e alguns outros times - especialmente Argentina e Inglaterra - seja tão grande assim. Aliás, em relação a esses dois, acho que ela mal existe. Num jogo contra eles, podemos ganhar como podemos perder sem nenhuma surpresa.

E é bom lembrar: nas eliminatórias, pontos corridos, ida e volta, terminamos EMPATADOS com a Argentina. E isso porque eles se classificaram antes da gente e levaram os últimos jogos menos a sério.

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Eu disse lá atrás que não ganharemos.

A justificativa, na verdade, não está em nenhuma dessas explicações técnicas não. É por uma questão bem simples: em toda Copa do Mundo, um time europeu de segundo escalão chega às semi-finais. Já foram Turquia, Croácia, Suécia, Bulgária, Bélgica, Polônia... Quando não aconteceu (a última vez foi em 90), foi a tal exceção que confirma a regra. Não há muito o que fazer quanto a isso, é a ordem natural das coisas.

E acredito que nós cruzaremos antes das semi-finais com os dois maiores candidatos a confirmarem isso: a República Tcheca de Nedved e a Ucrânia de Shevchenko. Demos azar na tabela, é a vida. Meu palpite é que ganharei a grana do bolão graças à Ucrânia.

Nossa chance é a "surpresa européia" ser Portugal. A sorte do Felipão já começou a aparecer no sorteio dos grupos, então é bom não duvidar demais.

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Também é bem possível que cruzemos nas oitavas não com os tchecos, mas sim com os italianos. Basta que eles se classifiquem em segundo, e não em primeiro. E em 9 das 13 Copas disputadas pela Azzurra em que houve uma primeira fase de grupos, ela se classificou na frente em apenas 4.

Se isso acontecer - um confronto entre um Brasil favoritaço e representante do futebol-arte contra uma Itália desacreditada se classificando aos trancos e barrancos... Putz, se preparem pra infinitas matérias lembrando o desastre do Sarriá em 82. É brabo imaginar que o raio possa cair duas vezes no mesmo lugar.

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Pela ordem, então: Itália, Inglaterra, Argentina e Ucrânia.

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E é isso aí, começa amanhã. Que se abram as cervejas!