18 junho 2006

A virada vem a partir das oitavas

Vocês se lembram do "melhor ataque do Mundo" montado pelo Flamengo, há anos atrás, com Romário, Edmundo e Sávio?

O técnico era Washington Rodrigues, comentarista que foi pra beira do campo qualificado por ser rubro-negro e amigo do presidente do clube (além, é claro, de ter seu conhecimento de futebol). E ele resumia assim a sua estratégia: "é só arrumar lá atrás, porque depois é mandar a bola pra frente que os três tenores resolvem".

Lembrei dele hoje quando vi o Parreira dando entrevista depois do jogo, explicando as alterações que fez no intervalo e que pra ele melhoraram o time. Coisas sobre cobertura ao Cafu, porque fulano e sicrano da Austrália tavam criando problemas por ali... Enfim. O problema era lá atrás, pra ele. E, aliás, ele já disse que o negócio é ajeitar a defesa, porque ofensivamente ele não tem muito o que fazer. "É só deixar eles jogarem que eles resolvem", diz o técnico referindo-se ao povo lá da frente. O quarteto.

É óbvio que o Parreira não é o Washington Rodrigues, a Seleção não é o Flamengo e que a Copa do Mundo pouco tem a ver com as competições que o rubro-negro disputava. Mas o fato é que a idéia do nosso técnico é a mesma simplista do Apolinho na época: se a gente não levar gol, vai ganhar - porque em algum momento um dos quatro vai dar um jeito de fazer um golzinho pelo menos. Vi uma entrevista do Juan em que ele falou isso aí quase que com essas mesmas palavras.

Até agora, estamos vencendo assim. E foi mais ou menos isso que aconteceu na Copa de 94.

Nos pênaltis, no sufoco, podíamos ter perdido assim como ganhamos - mas o fato é que ganhamos, é o que tá na História. Deu certo.

Só que eu acho que a zaga na época, com Aldair e Márcio Santos, era bem mais segura que a atual, embora pareça que tá todo mundo tranquilo com o Lúcio lá atrás. O Taffarel não dava sustos como o que o Dida deu hoje - e que não foi surpresa nenhuma, ele sai mal mesmo e volta e meia vai mandar uma dessas. Nossos laterais, Jorginho e Leonardo (depois Branco) davam muito mais opção de jogada pelas laterais do que os atuais. E os dois volantes, Dunga e Mauro Silva, pareciam muito mais intransponíveis do que os de hoje. Mas o que eu acho que é a maior diferença mesmo é que os adversários desta Copa me parecem mais fortes do que os da época.

Mas vá lá, hoje são quatro solistas ao invés dos dois da época para resolver - embora pareça que alguns (a maioria?) deles não estejam bem, eles podem sim resolver em um lance a qualquer momento, sempre. E é comum em Copa do Mundo que o campeão não seja aquele que impressionou nas primeiras rodadas. Então, quem sabe? Pode dar certo até o fim.

Mas acho que, a essa altura, todo mundo já se deu conta de que aquele mega-favoritismo do Brasil era obra de ficção.

* * * *

Toda a imprensa conhecia nossos jogadores, sabia como estavam em seus times, via nossos treinos todos os dias. Assim como havia acompanhado os jogos todos das eliminatórias, os amistosos, enfim. Com toda essa informação, diziam que estava tudo bem, não tinha pra ninguém, iríamos chegar e passar por cima.

Dois jogos depois, contra adversários bem mais fracos, agora todos descobrem, repentinamente, que esse ataque nunca vai dar certo, que o Ronaldinho tá fora de posição e não rende a mesma coisa na Seleção, que o Roberto Carlos é burocrático, que o time é estático, que...

É mole?