23 novembro 2006

Concentração de renda

Impressionante o domínio nordestino na série B. Dos quatro que subirão à série A, três são da região (sendo que o América-RN ainda precisa de confirmação na última rodada).

Impressionante o desempenho dos nordestinos na série A: ficaram com as últimas duas posições.

Nos últimos anos, tem sido comum ver o efeito iô-iô nos times do Nordeste, sempre saudados por suas torcidas apaixonadas. Vai ser um desafio para os três estreantes do ano que vem quebrar a rotina e se manter na elite.

Uma das causas disso é a divisão perversa dos direitos de TV. O Náutico - que além de nordestino, está em situação pior do que de alguns de seus vizinhos por não ser membro do Clube dos 13, como Vitória, Bahia ou Sport - espera receber ano que vem cerca de R$3 milhões por sua participação no campeonato, pelo que li no blog do Poli. O Flamengo, por exemplo, deve ganhar no mínimo 4 vezes mais do que isso (o dado que achei, do balanço rubro-negro de 2004, falava em 15 milhões de reais naquele ano para televisionamento; a cifra deve ter aumentado de lá pra cá, mas se referia não só ao Campeonato Brasileiro). Se somarmos a isso as diferenças em todos os demais contratos de patrocínio, parcerias e o escambau, se percebe que a disputa é totalmente desigual.

Com o nivelamento dos jogadores que ainda atuam pelo Brasil, acaba havendo espaço para estes times conseguirem fazer boas campanhas, se souberem investir em estrutura, nas categorias de base e tiverem uma boa direção técnica, capaz de encontrar bons valores escondidos por aí. É a esperança que resta.

Mas a verdade é que é necessário pensar no modelo que se deseja para o futebol brasileiro. O atual, com esta política de divisão de recursos e um longo campeonato brasileiro de pontos corridos com peso gigantesco no calendário e na atenção da mídia, só pode mesmo gerar dificuldades não só para os times de centro menores, mas também para os clubes de menor expressão dos estados mais importantes. Muita gente já começa a escrever por aí previsões sobre um máximo de quatro ou cinco times dominando totalmente o nosso futebol em alguns anos. É o que acontece na Europa, e devemos pensar se é o que queremos para o Brasil.

No modelo americano, há a preocupação de não criar superpotências que monopolizem os títulos de suas ligas profissionais. Algumas das medidas que eles tomam pra isso não são transportáveis para o Brasil (a questão do draft, por exemplo; lá, os times mais fracos em uma temporada sabem que terão prioridade para escolher os melhores entre os novos valores vindos das universidades na seguinte, e isso realmente é decisivo para que haja uma alternância de forças). Mas há muito tempo eles já chegaram à conclusão da necessidade de um teto salarial. Talvez seja algo que devesse ser pensado aqui - embora deva se pensar também nos efeitos que isso pode ter para dificultar ainda mais a manutenção de grandes jogadores no país.

No duro, com as cifras absurdas que vemos nos campeonatos europeus e os indícios cada vez mais fortes de lavagem de dinheiro no futebol de lá, em algum momento a FIFA deveria tomar medidas nesse sentido em nível mundial.

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P.S.: Acabei de postar este texto e fui ler no Máquina do Esporte uma notícia falando justamente desse teto salarial que os americanos instituem em suas ligas profissionais. No caso, trata-se de uma nova regra da MLS - justamente a do futebol - que permite que cada time possua um jogador acima do teto. A idéia é justamente permitir que se abram exceções para grandes jogadores (a nova regra já foi apelidada de "Lei Beckham", justamente porque se fala no interesse em levar o inglês pra lá).